Introdução
A moda é uma forma de expressão que acompanha transformações culturais, sociais e econômicas. No entanto, durante décadas, a indústria da moda se concentrou em padrões estéticos restritos, voltados a corpos magros e considerados “ideais” segundo uma visão eurocêntrica e limitada. Nesse contexto, pessoas com corpos maiores enfrentaram exclusão sistemática nas vitrines, passarelas, campanhas publicitárias e, principalmente, nas araras das lojas. A moda plus size surgiu como resposta a essa exclusão, e hoje representa um segmento em plena ascensão no Brasil, impulsionado por mudanças de mentalidade, movimentos de representatividade e a força do consumo consciente.

O que é moda plus size
Moda plus size é o segmento da indústria do vestuário que atende pessoas que vestem tamanhos acima do convencional, geralmente a partir do manequim 46. Mais do que simplesmente produzir peças maiores, o conceito envolve desenvolver roupas com modelagens específicas, tecidos adequados, conforto, estilo e representatividade. A proposta da moda plus size é oferecer não apenas versatilidade, mas também autoestima, autonomia e liberdade estética para um público historicamente negligenciado.
O crescimento do mercado no Brasil
O Brasil tem uma das maiores populações plus size do mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais da metade da população brasileira está acima do peso, o que representa um contingente expressivo de consumidores. Mesmo com esse cenário, por muito tempo as opções disponíveis eram limitadas, desatualizadas e com pouca variação de estilo.
Nos últimos anos, o crescimento da demanda por roupas que atendam corpos reais impulsionou o surgimento de marcas especializadas, coleções dedicadas e eventos exclusivos. Estima-se que o setor da moda plus size movimente mais de 7 bilhões de reais por ano no Brasil, com tendência de expansão nos próximos anos. Essa mudança é reflexo de um mercado mais atento à diversidade e de consumidores que exigem representatividade.
O papel das influenciadoras e da internet
As redes sociais desempenham papel fundamental na visibilidade da moda plus size no Brasil. Plataformas como Instagram, YouTube, Pinterest e TikTok deram voz a influenciadoras e criadoras de conteúdo que mostram na prática como é possível se vestir bem com estilo, ousadia e identidade, independentemente do peso.
Nomes como Ju Romano, Babu Carreira, Dani Rudz, Alexia Brito (Bota Pó) e Thais Carla ajudaram a desconstruir preconceitos, ampliar o debate sobre gordofobia e estimular marcas a ampliarem suas grade de tamanhos. A presença de pessoas gordas ocupando espaços de visibilidade contribui para naturalizar diferentes tipos de corpos e para fortalecer o conceito de moda inclusiva.
Além disso, as vendas online possibilitaram que muitas marcas chegassem a regiões onde o acesso ao vestuário plus size era restrito. Plataformas como Posthaus, Dafiti, Shopee e Amazon reúnem diversas opções, com filtros por tamanho, categoria e faixa de preço.
Marcas brasileiras e iniciativas importantes
O avanço da moda plus size no Brasil também é impulsionado por marcas especializadas e iniciativas que promovem encontros e visibilidade. Entre os nomes que se destacam estão:
Marcas autorais e independentes
- Cromo.somos: marca mineira que aposta em modelagens amplas, peças genderless e tecidos naturais, com foco em conforto e estilo.
- Leticia Mitchels: estilista catarinense com peças do PP ao 5G, que valoriza alfaiataria, moda festa e caimento para corpos curvilíneos.
- MAAR: marca inclusiva com roupas pensadas para o cotidiano de pessoas gordas, prezando pela mobilidade e elegância.
- Zuya: foca em estilo urbano, minimalista e atemporal, com forte presença digital.
Essas marcas, muitas delas lideradas por mulheres e pessoas gordas, apostam em um modelo de produção mais sustentável, com coleções limitadas, atenção ao corte e foco na experiência do cliente.
Grandes varejistas
- Renner (Ashua Curve & Plus Size): linha voltada exclusivamente para o público plus size, com peças modernas e numeração que vai até o 54.
- Marisa e C&A: apesar de não terem coleções exclusivas em todas as unidades, oferecem peças plus size em suas lojas e sites.
- Pernambucanas: tradicional no varejo nacional, também apresenta opções ampliadas em algumas regiões.
Essas grandes redes ainda enfrentam críticas quanto à limitação de modelos e à falta de padronização entre tamanhos, mas representam um avanço ao darem visibilidade ao segmento e ampliarem o acesso em massa.
Eventos e feiras
- Feira Pop Plus: realizada em São Paulo, é o principal evento do setor no Brasil. Reúne dezenas de marcas, promove desfiles, debates, oficinas e conexões entre consumidores e empreendedores. É um espaço importante de visibilidade, representatividade e troca de experiências.
Desafios enfrentados pelo setor
Apesar do crescimento, a moda plus size ainda enfrenta uma série de desafios no Brasil:
- Modelagem inadequada: muitas marcas apenas ampliam as grades de tamanho sem ajustar a modelagem ao corpo gordo, o que resulta em peças desconfortáveis ou mal ajustadas.
- Padrões estéticos limitantes: ainda é comum que peças plus size sejam excessivamente básicas, escuras ou com cortes “escondidos”, como se o objetivo fosse disfarçar o corpo, e não valorizá-lo.
- Falta de representatividade nas campanhas: apesar de crescer, a presença de modelos plus size em propagandas ainda é baixa, especialmente em corpos gordos que fogem do padrão curvilíneo e proporcionado.
- Preconceito e gordofobia: o julgamento social ainda recai sobre pessoas gordas que ousam usar roupas justas, coloridas ou consideradas “inadequadas”. Isso impacta diretamente o consumo e a autoestima de muitas mulheres.
- Preços elevados: peças plus size costumam ser mais caras, tanto em lojas especializadas quanto nas grandes redes, o que torna o acesso desigual.
Tendências da moda plus size
A moda plus size acompanha tendências globais e locais. Algumas das principais apostas para os próximos anos incluem:
- Estampas marcantes: florais, geométricas e tropicais, que rompem com o mito de que estampas não favorecem corpos grandes.
- Cintura marcada e recortes estratégicos: valorizando a silhueta sem o compromisso de “afinar”.
- Tecidos confortáveis: algodão, viscose e malhas com caimento leve, que facilitam a mobilidade.
- Moda esportiva e casual: roupas funcionais para o dia a dia, com estética urbana.
- Estilo retrô e romântico: vestidos godê, blusas com babados, mangas bufantes e saias rodadas.
- Moda festa e alfaiataria: cada vez mais presentes em casamentos, eventos corporativos e formaturas, com cortes sofisticados e tamanho realista.
O futuro da moda plus size
O futuro da moda plus size no Brasil depende de um alinhamento entre indústria, consumidores e políticas públicas. É necessário que o setor de moda amplie sua compreensão sobre corpos diversos, adotando práticas mais inclusivas em todas as etapas da cadeia produtiva, desde a criação até a publicidade.
Para isso, é fundamental ouvir as demandas do público plus size, investir em pesquisas de modelagem, capacitar profissionais da área e fomentar a presença de pessoas gordas em espaços de decisão dentro das empresas de moda.
A ampliação de políticas de inclusão, a conscientização sobre gordofobia e o incentivo ao empreendedorismo feminino e diverso são caminhos possíveis para tornar o mercado mais justo e representativo.
Conclusão
A moda plus size no Brasil deixou de ser um nicho para se tornar um movimento. Movido pela força de consumidores exigentes e conscientes, o setor enfrenta desafios importantes, mas também celebra conquistas notáveis. Representatividade, estilo e autoestima não são privilégios de poucos. São direitos de todos. E a moda, quando inclusiva, tem o poder de transformar não só o guarda-roupa, mas também a forma como cada pessoa se vê e se apresenta ao mundo.